segunda-feira, 28 de julho de 2014

Comunicado às picuinhas

Sabe o que a gente tem que fazer pra essas picuinhas que ameaçarem nos atrapalhar? Gritar "Podem vir em gênero, número e grau! A gente se ama, e a gente vai se ver de qualquer jeito, e a gente vai construir castelos, e a gente vai rir muito pra vocês, a gente vai fazer festa, e a gente vai fazer amor de segunda-feira, e a gente vai enfrentar dragões, e a gente vai se beijar na rua, e a gente vai viajar sem ter dinheiro, e a gente vai matar trabalho pra se amar, e a gente vai atrasar contas pra pagar hoteis, e a gente vai tirar nota baixa porque ficou fazendo sacanagem, e a gente vai viver fora da lei pra viver dentro de nós e a gente vai perder o emprego pra se ver todos os dias, e a gente vai vencer vocês".

terça-feira, 10 de junho de 2014

8 e 80

Nós somos diferentes de 8 à 80.

Você é esse vento imponente que sabe onde quer bater, eu sou esse sopro vacilante que não sabe ser nem vento e nem brisa. Você tem esse passo firme como de quem aprendeu a andar sozinha, eu tenho esse jeito desajeitado de tropeçar nas minúsculas das pedras se estiver andando sozinha.

Você é essa flor enorme que criou os próprios espinhos pra se proteger, eu sou essa semente pequerrucha que não sabe se nasce flor ou espinho. Você tem esse ar de “eu sei me virar sozinha, meu bem”, eu tenho essa súplica nos olhos dizendo “por favor, me mostra, não sei enxergar sozinha”.

Você tem esse estar seguro no mundo de quem sabe onde está, eu tenho esse jeito cambaleante que não sabe se foi o mundo que nasceu errado ou se fui eu. Você é essa voz clara que transmite bem o que quer, eu sou esse violão com as cordas vocais bambas que desafinam, embaralharam e quase não saem. Você é esse grito falando para vida como ela deve ser, eu sou essa voz baixinha perguntando pra ela: “como se deve ser?”.

Você é exclamação, eu sou interrogação. Você tem as respostas pras coisas e perguntas para o amor. Eu tenho perguntas para todas as coisas e respostas para o amor.
Você é o muro alto no qual eu pichei com o meu jeito vândalo em letras garrafais “o amor é urgente”.

Você é aquela coisa que fica linda com uma regata branca e o cabelo bagunçado, eu sou aquela que precisa ir três vezes ao salão para ser notada. Eu sou a versão feminina do Cara Estranho dos Los Hermanos, mas que divide o coração com você.

Eu sou uma canção dos Beatles bem clichê pedindo “me toca na sua estação de rádio preferida, baby”.

Você levanta uma sobrancelha e o mundo pararia se você mandasse. Eu sou o mundo que você pára levantando uma sobrancelha.

Eu sou aquela que tem uma alma desassossegada de adolescente que está sempre prestes a conflituar-se com a vida, você é aquela que me diz “quem domina a sua vida é você”.

Você é mar, eu sou lagoa. Você é tempestade de verão, eu sou garoa fininha, mas quando a gente se beija, a gente chove igual em todo lugar e ninguém poderia prever quando a chuva iria cessar.

E você já visitou mais corpos que eu, mas eu te toco como se já tivesse o seu mapa. Você é grito, eu sou choro, mas quando a gente ri junto, todo o barulho dessa cidade caótica fica mudo. Você é o pó e eu sou o açúcar do café que a gente bebe todo dia. Às vezes com mais pó, às vezes mais açúcar. E a gente se bebe, se toma, se vira de 8 à 80.

Você tem opiniões próprias e sabe qual é o seu caminho, eu sou aquela que precisa olhar as placas.

Você é a placa em neon dirigida à mim “o seu caminho é o que decidir ser. Decida e vai”.

Eu sou aquela que estava cansada de te esperar segurando o controle remoto da TV sem parar em um canal. Você é aquela que apareceu pra dividir o sofá comigo e ser a minha programação.

Você é rodovia, eu sou aquela estradinha de campo que foi feita de tanto pisarem em cima.

Eu sou o inverno de agosto, você é as águas de março fechando o verão.


Mas aquele nascer do sol que a gente viu só estava, na verdade, vendo a gente nascer.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Tudo é você agora.

Foi quando ela me perguntou:

- Já amou mais alguém que a mim?

Foi quando eu lhe respondi...

- Eu estou te amando tanto, e foi tudo de um jeito tão rápido, intenso e avassaldor, que às vezes parece que é a primeira vez que eu estou apaixonada por alguém assim. Tudo o que eu vivi antes parecem traillers e você é filme. Você me tem de um jeito que nunca me tiveram antes. Então, parece que eu te amo mais do que eu já amei alguém. Eu moveria o mundo por você. Eu mudaria a minha vida por você. Isso tudo parece muito clichê, mas os clichês, desconfio eu, são as maiores verdades do amor.Você tem deixado minhas paixões antigas no pé, entende? Como se fossem algo que só tivessem me preparado pra você. Parece a primeira vez que eu estou apaixonada por alguém assim porque é a primeira vez. Eu não saberia explicar, mas é como se com você fosse de um jeito mais completo. É isso, com você é mais completo.Como se o amor não disponibilizasse mais apenas a refeição completa, mas também os talheres.Posso fazer uma comparação boba? Sabe quando você é criança e tem um video-game que você pediu tanto para sua mãe comprá-lo e depois que ela compra, você descobre que existe outro mais avançado e incrível, e implora pra que ela o compre e quando consegue se pergunta como se entreteu com o outro se existia esse? É aí que eu descubro que eu me entreti com outras pessoas antes porque você ainda não tinha aparecido e a gente se descoberto. Porque se eu tivesse te descoberto antes, seria só você desde o início; nós teríamos nos feito no mesmo momento que o deus tivesse dito 'faça-se a luz' e surgiríamos no meio da terra como duas Evas no meio do paraíso procurando onde pecar.Mas dizia eu, clichêmente, que com você é diferente. Você me desvenda como nunca me desvendaram antes, já sabe o que eu vou falar e com qual cara, me anota como se fosse uma tabuada, sabendo que resultado vai dar em toda e qualquer operação, você me vasculha, penetra e espeta a tua bandeira num território que não haviam entrado antes como o primeiro homem pisando na lua, e olha ao redor desconfiada para ver se não há outras pegadas e não vendo sorri o seu sorriso imponente que pára qualquer trânsito na terra dos homens e o trânsito caótico de emoções nas terras minhas, você desaprende os meus olhos do que eles viram antes como se toda beleza estivesse se inaugurando quando eu vejo você, e faz tudo isso sem querer que nem desconfia que faz e fica sendo uma heroína ignorada por si mesma, mas não ignorada por mim. Você me recomeça e eu tenho a impressão que sem você eu estaria interrompida. Mas você me recomeça de um jeito que nunca souberam como fazer.




Era isso ou apenas ter dito um não... mas aí a resposta não seria completa como a gente.

sábado, 7 de dezembro de 2013

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Uma verdade sobre mim

Resolvi fazer de um dos meus textos um serviço de utilidade pública para prevenir as pessoas da minha perigosidade afetiva. Esse texto é uma grande placa no portão da minha alma: "Não se aproxime." Tudo isso porquê? Eu sou uma puta sentimental. Não, não é uma "puta duma sentimental" que apenas significaria que sou sentimental demais (o que também sou, diga-se de passagem), sou uma puta mesmo. Não dessas que abrem as pernas (o que não é ruim), mas que abrem o peito. Sou toda dada à qualquer emoção bonita, um sorriso aberto, uma frase bem composta. Este texto não é um texto correto, branco, suave, muito limpo, muito leve, como diria Belchior, ele é uma denúncia da minha cafajestagem emocional. É, eu sou uma cafajeste, dou uma olhadinha pra trás pra toda sensação bonita que passa por mim. Galanteio, jogo charme, dou uma mordidinha no lábio, componho versos e tento manter na minha teia qualquer sentimento que me atraia. Isso não quer dizer que dou pra qualquer emoção, dou pra toda emoção que seja linda, poética, azul e não pra qualquer rabo-de-saia. Mas ainda assim sou uma vagabunda sentimental, me arreganho pra qualquer sentimento bonito, mesmo no primeiro encontro. Mas aí cê me pergunta, caro(a) leitor(a) - se é que tenho algum (a) - onde o meu texto/denúncia se torna útil, não é mesmo? Talvez em lugar nenhum. Mas a intenção é desmistificar essa imagem linda-e-pura que alguém possa ter criado sobre mim (acreditem, isso é possível, até mesmo porque o meu lado galanteador é sério). Na verdade este texto se torna útil mesmo para a próxima pessoa que vai entrar na minha vida, se for se apaixonar por mim: não se apaixone. Tenho um coração vagabundo e múltiplo e não pertenço à uma emoção só. Eu vou me apaixonar por você mas não faça o mesmo, a menos que também seja uma cafajeste, porque assim nossas dívidas sendo mútuas acabam se anulando. Tenho um coração safado, meu bem. Sou uma maníaca sentimental, persigo qualquer coisa que me deixa com o coração excitado. Vou tarar teu encanto, assediar tuas paixões e colocar a culpa no meu eu-lírico mas você nem vai perceber crime nenhum, nem vai perceber que caiu nas garras de uma viciada em emoções bonitas e ainda vai achar que o perigo é você. O perigo sou eu,  sou uma vadia de amores, uma caçadora de festa pro coração. Uma emoção hoje aqui, amanhã outra emoção acolá, e vou distribuindo carícias e malícias à almas alheias. Gosto de dar beijos de bocas que não se tocam e provocar orgasmos onde corpos não estão envolvidos. Violento corações alheios e eles fogem assustados, mas também sou violentada, não saio impune por ser assim, e sofro, como sofro. Ao me denunciar assim, acho justo um mediador se instalar aqui, e o inverso ocorrer: a minha defesa. Porque colocando as coisas assim, eu apareço como a sedutora que lucra na história, e a realidade é que quase sempre eu saio perdendo. Porque o que eu sinto é sincero, não é leviano assim apesar da minha vagabundagem. É sincero e sempre acontece num grau extremista, sim,  eu disse que também sou uma puta duma sentimental, sinto de 8 a 80, e ao seduzir certas emoções elas me seduzem de volta numa intensidade bem maior e aquilo que eu persigo acaba me perseguindo. E eu que era criminosa passo a ser vítima. Sou uma culpada inocente. Correta, branca, suave, limpa e leve de um lado, errante, escura, suja, grave e pesada de outro.







A próxima pessoa que vai entrar na minha vida,

tenho uma placa no portão da alma com os dizeres: "Não se aproxime".

Mas logo mais embaixo tem outra: "Chega perto, vem aqui. Desconsidere a placa anterior."

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Ainda tá batendo?

- Eu já amei tanto na vida que acho que meu coração esgotou.
- Você é tão jovem...
- Mas tenho recordações pra uma vida inteira.
- Meu bem, o coração não aceita viver só de recordações.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Órbitas Obscuras


Caminhava com passos tortos e pensamentos desgovernados entre corpos sem significado e uma orgia de barulhos. Às vezes arriscava olhar nos olhos desses corpos alheios e sempre encontrava dois assaltantes. Os olhos alheios sempre lhe pareciam dois invasores astuciosos que poderiam adentrar-lhe e descobrir quem ela era. E isso era algo que nem ela mesma fazia a respeito de si: olhar para dentro dela mesma. Tinha medo do que podia descobrir. Ela era um segredo que não fora revelado nem a si mesma. Assim, desviava os olhos rapidamente dos rostos alheios. 

Entre desvios, caminhava; faltava pouco para chegar ao teu destino. Mas qual era o teu destino? Ela tinha um? Por vezes se sentia uma carta sem destinatário. Até os astros poderiam ter se esquecido dela. Era uma ignorante em astrologia, sabia apenas que, segundo tal ciência, a posição dos astros interferia nos acontecimentos terrenos. Pensou então que os astros eram bailarinos que dançavam sem parar fazendo a gente errar os passos. 'A gente dá significado astrológico a algumas coisas e se fode terrenamente', pensava nos seus momentos de raiva e de constatações de perda. No mais, chorava, 'parecia tão astralmente combinado'. Concluia que não sabia dançar essa dança dos astros. Ou talvez o Deus não estivesse muito interessado com o que acontecia aqui embaixo e não estava a fim de brincar em organizar seus planetinhas. Ela falava muito "talvez", sua única certeza era a dúvida. 

Entre dúvidas cartesianas, caminhava. Os pensamentos tão desgovernados quanto imaginava que os astros deveriam estar lá no espaço celeste. Se a sua vida aqui era apenas uma imitação dos movimentos planetários, o universo então deveria ser um trânsito caótico. Mas então feito uma epifania veio-lhe a frase de Nietzsche à cabeça: 


"É preciso ter ainda um caos dentro de si 
para poder dar à luz uma estrela dançarina". 


 Assim foi tomada subitamente por um otimismo dançante - "Serei uma estrela bailarina e dançarei com os astros, mas serei eu quem guiará os passos". Teve uma súbita clareza de que o destino estava em seus pés. Como se tivesse um interruptor interno e alguém o tivesse ligado de repente. Já não caminhava, agora dançava em direção ao teu destino. Não sabia qual era, mas sabia que ele ficava mais em frente. É para lá que ela deveria ir. De repente, uma estrela caiu do céu. Deveria ser um sinal. De quê? Apanhou-a e a guardou no bolso. Estrela bailarina. E foi dançando entre as ruas celestiais e caóticas.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Aquários apertados


Observando aqueles peixes no aquário, condenados a nadarem entre aquele espaço limitado por paredes de vidro, sem irem além, vivendo em círculos, foi então que ela percebeu que ao contrário do que costumava dizer, ela não era um peixe fora do aquário, ela era um peixe dentro do aquário. Não indo muito além dessas paredes de vidro pelas quais via o mundo lá fora. Concluiu então que a sua relação com o mundo tinha tornado-se apenas de ver, e não de estar. Ela não estava mais no mundo. Estava no aquário apertado, tão cansada de seu reflexo nas paredes de vidro, que já não havia mais reflexo. Pensou 'será que os peixes se indagam  sobre o seu estar no aquário?'. Pois é tão triste. Habitada por tubarões interiores que a jogavam em águas escuras, desejou um dilúvio. Que um deus em posse de uma jarra enchesse o seu aquário até transbordar. Ou em posse de um martelo quebrasse as paredes de vidro. Tanto faz, apenas queria sair do aquário e nadar em outras águas. Ela queria o mar. Ela queria o maior. Ela queria estar no mundo. Pensava em como outrora teu aquário tinha sido maior. Ou como ela tinha tido a ilusão de que ele era maior. Mas tantas dores o apequenaram. É que além das paredes de vidros, havia outras paredes que a separavam do mundo. Ela não sabia comunicar-se com ele. Ela só sabia olhar. Embora, diversas vezes não entendesse o que via. Pensou então que talvez os peixes também não entendessem. Pensava que viver fosse isso: não entender. E tua incompreensão era tão vasta que desejava algo tão vasto quanto. Ela queria o mar. Sua natureza era o mar. Sua natureza era amar. E amar também era não entender.

domingo, 12 de junho de 2011

Aos ímpares e aos pares.


Hoje eu invoco a natureza, os deuses, os astros e tudo o que une. 
Hoje eu quero me unir aos ímpares e aos pares. 
Quero me unir aos românticos, aos solitários e aos acompanhados. 
Aos que jantam sozinhos e aos que tem um par de xícaras ao lado. 

Aos que tem um amor platônico, um amor perdido, 
um amor correspondido, um amor divino.
Um amor inextricável. Um amor infindável.
Um amor tempestade, um amor calmaria.
Um amor que apazigua, um amor que não alivia.
Ao que não tem amor nenhum e sente a vida vazia.

Aos desesperançados e aos que acreditam. 
Aos que lutam, aos que acham essa luta vã. 
Aos equilibristas, aos que se equilibram no vão. 
Aos que são heróis, aos que levam uma vida de cão. 
Aos que ainda aceitam as fantasias, 
aos que levam porrada todo dia. 
Aos que não tem chão e não tem fome. 
Aos que tem fome, mas não tem pão. 
Aos que tem pão e o comem.

Aos que foram enganados e feitos de cacos, 
aos que tem alguém que os constrói diariamente.
Aos que foram transformados em pedra, 
aos que foram transformados em flor por alguém que não mente. 
Aos que falam, aos que engolem frases e tem má digestão. 
Aos que saboreiam as memórias, 
aos que prefeririam ter amnésia e não lembrar não. 
Aos dramáticos, aos que fingem que não dói. 
Aos que ainda tem coração.

Hoje eu quero me unir ao meu eu e dizer-lhe: 
"Já que é com você que eu vou viver a minha vida inteira, 
que ao menos seja uma relação de amor". 
Quero me unir aos que se auto-namoram, 
aos que se apaixonam por si mesmos e não se abandonam.

Aos que esperam um par pra dividir. 
Aos que já tem alguém pra se somar. 
Que hoje os ímpares se somem aos outros ímpares, 
e o só seja um só acompanhado. 
Que a solidão seja companhia. 
E a companhia não seja solidão. 

Hoje eu quero me unir ao que foi, 
ao que é, 
ao que não é 
e não será jamais. 
Quero me unir a todos os meus amores, 
desde o meu primeiro da segunda série 
até o último que foram todos em um só.

Hoje eu quero me unir aos embriagados de sentimentalidades.
Aos que amam com toda a fé que tem na vida. 
Aos que transbordam, aos que se entregam, aos que seguem furacões. 
Aos que vão sem medo. 
Aos que vão porque tem medo de ficar.

Hoje eu quero me unir ao tudo e ao nada.

Hoje eu quero me unir ao pensamento 
de que o amor é mais presença do que ausência. 
E que ele vem, vem sim. Ele vence.

Hoje eu quero me unir ao sincero, ao humano, ao sensível, 
ao dolorido, ao sagrado, ao sobrevivente, ao vencedor, 
ao insano, ao intenso, ao que voa, ao que anda, 
ao cinza e ao que é uma caixa de lápis de cor, 
ao oco, ao louco, ao salubre, ao magnânimo, 
ao que já não tem ânimo, 
ao que restaura, ao que tem aura, 
ao que é passível de amor. 
Ao que nele se funde, 
ao que nele se une.

segunda-feira, 6 de junho de 2011


                Com que frequência você abre a porta pra felicidade? 

Analise bem, há quanto tempo você tá com a Dona Tristeza aí na tua sala pensando no quanto a Srta. Felicidade não aparece? Quando você percebe que já se acostumou com a Sra. Tristeza, como se ela fosse um móvel da casa que adquiriu a aparência de que sempre esteve ali, é hora de dar uma espiada na janela ou no olho mágico da sua porta.  É preciso ter olho mágico pra vislumbrar a Srta. Felicidade. Ela pode estar lá fora rondando o teu quintal, plantada na tua porta e você aí servindo cafézinho pra Tristeza. Ô senhora espaçosa, essa Tristeza! Você serve dois, três cafézinhos, e ela já está lá deitando a perna no teu sofá, dormindo na tua cama, tomando banho no teu chuveiro... se você não fizer uma menção de que deseja a sua partida, ela toma conta da sua casa. Sabe os baobás? Aquelas árvores que crescem muito e que o pequeno príncipe nos alerta contra o drama que se dá quando não as cortamos quando pequenas e elas tomam conta do planeta inteiro? Pois-zé, as tristezas são verdadeiros baobás. E se a gente não tiver um carneiro de estimação pra comê-las quando estão no início de seu crescimento, vira um dramalhão só. E aí só um milagre resolve. É melhor deixar a sua felicidade no domínio de um milagre ou no domínio da sua responsabilidade?  Se você não permitir, a Felicidade não vai entrar. O mais sensato, ao meu ver, é deixar a porta aberta, possibilitando o fluxo das emoções. Porque a vida é fluxo. A vida é movimento. A vida é esse entre-e-sai mesmo. Ora triste, ora feliz. Mas com a consciência de que a tristeza e a felicidade requerem a tua permissão. É bem assim como o Pe. Fábio de Melo disse:  


"Porque tão importante quanto não fechar a porta para os sofrimentos é não impedir, depois, a entrada das alegrias..."




  Ah, e ter um carneiro também seria importante. 





- Hey, Felicidade! Vamos entrando! 
Não repare na bagunça, Dona Tristeza esteve aqui há pouco 
e sabe como ela desarruma as coisas por onde passa.
Mas por favor, sente-se, fique à vontade, a casa é sua.
Aceita um café?